quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Literatura e Cinema: uma reflexão


Entre as tendências de estudos teóricos voltados a objetos culturais e à arte contemporânea, a inclinação interdisciplinar é uma das mais vigorosas, sendo a que investiga as relações entre o cinema e a literatura. A quantidade de livros que já receberam versões fílmicas, o desafio de transformar o conteúdo de um livro em roteiro cinematográfico, bem com suas relações com a História e as respectivas ressonâncias culturais são apenas alguns dos estímulos às abordagens que investigam e aprofundam interpretativamente o diálogo entre a literatura e a arte cinematográfica.

É antigo o contato entre a literatura e as demais artes. Suas origens remontam à Antiguidade, quando os limites entre música, história, pintura e poesia, por exemplo, não constituíam tema para reflexão pelo simples motivo de que eram vistas como parte de um processo natural de expressividade. No decorrer dos séculos, o homem se viu cada vez mais impelido a explorar individualmente cada área das artes e das ciências. Tendência que surgiu com a segmentação do saber, que culminou com a criação das disciplinas como as conhecemos desde o século XIX.

Atualmente, dispomos de um arcabouço teórico específico para cada área, embora, nas manifestações artísticas propriamente ditas, o diálogo entre elas persista, incluindo, além de disciplinas do porte da História, Filosofia e dos Estudos Literários, todo o acervo de novas formas de expressão como a pintura, fotografia e o cinema, entre outros. A ênfase no estudo dos vínculos entre cinema e literatura se deve ao fato de que desde os primeiros filmes até os dias atuais, embora já não exclusivamente, os filmes tomam por base obras literárias para adaptação.

A adaptação de um texto literário ao cinema sempre desperta comentários acerca da “fidelidade” do diretor ou da “infidelidade” da obra fílmica. Isso significa que a leitura comparativa leiga é automaticamente acionada no público que conhece a obra que serviu de base ao filme. Isso porém, revela-se problemático , uma vez que submete o filme aos significados do texto literário, em geral, limitando a pluralidade da criação cinematográfica venha a propor na sua autonomia de obra artística cujos sentidos estéticos e culturais possam remeter a outros horizontes.

A fim de evitar essa perspectiva redutora, muitos estudos de adaptação de obras literárias ao cinema propõem análises mais contextualizadas do filme adaptado, respeitando o momento histórico-cultural em que ele é produzido e inserindo-o nos vários discursos que o constituem. No caso do Rio Grande do Sul, somando-se à nossa história política e cultural, muito peculiares no cenário nacional, temos um cinema que reforça e reitera aspectos culturais e literários com grande intensidade. Um significativo número de obras cinematográficas baseadas em adaptações de obras literárias com pano de fundo histórico requer um olhar mais detido. Foi partindo dessa observação que surgiram os objetivos do grupo de estudos de Cinema e Literatura no Rio Grande do Sul.