terça-feira, 31 de agosto de 2010

O ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO: UM OBJETO DE ESTUDO
O roteiro cinematográfico: uma apresentação”, de Jorge Cruz In: Estudo de Cinema: (SOCINE, 2000), traz como abordagem principal, a relação entre o roteiro cinematográfico (obra literária) e o filme, dividindo-se em dez tópicos. Segundo o autor, “em um filme concluído, o roteiro se apresenta como uma sutil ferramenta de trabalho do diretor e de toda a equipe de produção e desaparece enquanto obra dando lugar à outra obra” (p.316). Ou seja, o roteiro (texto) torna-se invisível após a transposição para o filme, no qual prevalece o aspecto visual.
Considerando as relações o cinema com a literatura, a palavra chave é adaptação. De acordo com Cruz (p.316), “O cinema, ao adaptar a obra literária, altera a sua forma para, então, o roteiro desaparecer enquanto obra para dar lugar ao filme. Podemos afirmar que o roteiro é o trampolim que torna possível esta transposição”. Em suma, o roteiro será o objeto de estudo para sabermos como ocorre e por que ocorre o ato de criação de um filme.
Em relação à qualidade do roteiro, Field, que é professor de curso profissionalizante para roteiristas, foi convidado pelo Cinemobile para avaliar roteiros “em termos de qualidade, custo e provável orçamento” com o objetivo de achar roteiros bons para os parceiros da empresa que o contratava. Para Field, um bom roteiro de filme seria “o estilo, a forma com que as palavras são escritas nas páginas, o modo como a história é estabelecida...”; também um bom texto argumentativo sobre o enredo, as personagens e o controle da situação dramática. Com base no depoimento de Field, é possível notar a rigorosa indústria norte- americana.
Em contraponto com Field, para Carrière, o roteiro “é o elemento menos visível da obra concluída. Parece ser um todo independente”. Por isso, para Carrière, a qualidade do roteiro deve ser literária, mas, ao mesmo tempo, constituir-se como “instrumento de trabalho para os diversos profissionais que atuam em equipe”. Ambos referiam-se à estrutura, à formatação do roteiro e à qualidade técnica.
Entretanto, para avaliarmos a qualidade de uma obra fílmica, primeiro, precisamos saber o que é um roteiro. O roteiro, inicialmente conceituando, “é a forma escrita de qualquer espetáculo áudio e/ou visual” (Comparato, 1983, p. 15). O processo de redação do roteiro pode ser representado em quatro etapas: o argumento (que pode ser uma obra literária, uma peça teatral, história em quadrinhos); o tratamento (quando há aprofundamento no argumento); pré-roteiro (é a redação inicial do filme); o roteiro e, por fim, a decupagem técnica.
No entanto, o roteiro escrito para filmagem pode ter diversas formas e cada autor tem o seu estilo para escrevê-lo (alguns mais, outros menos literários). Há vários tipos de roteiros, e devemos levar em conta que cada roteirista tem o seu estilo próprio (uma maneira particular para se expressar). Sucintamente, há dois principais formatos de roteiros: primeiro, o roteiro corrido, que tem várias formas de ser escrito e fortalece o trabalho coletivo, pois dá autonomia para a equipe produzir a obra. Segundo, o roteiro com a lauda dividida ao meio verticalmente, com uma coluna para as imagens e outra para o áudio. Este formato de roteiro é próprio para filmagens publicitárias.
Nos dias atuais, nota-se uma tendência para uniformizar formalmente o roteiro. O resultado é o chamado formato americano. Em suma, “nos Estados Unidos o roteirista assume a responsabilidade de criar um texto claro, objetivo e ‘mais literário’, pois se não envolver o leitor, este o abandonará”. Nas décadas de 80 e 90, abriu-se a discussão sobre a estrutura do roteiro. Tanto o cinema Europeu quanto o cinema Latino apresentam a mesma divisão: aderem ou se opõem ao cinema norte-americano. Nessa cisão, revelou movimentos cinematográficos independentes inovadores nos EUA (underground, trash) e fora os cinemas novos.
A experiência brasileira, certamente, é bem diferente da Norte-Americana. O cinema, no Brasil, não era constituído, com algumas exceções, a partir de um roteiro. Só recentemente, começa a aparecer a figura do roteirista como escritor/criador/ adaptador para o cinema. O diretor/criador redige os seus argumentos dentro de um padrão criado por ele.
De qualquer modo, nunca podemos esquecer da base de criação de um filme, que é o roteiro, pois “todo o filme, a princípio, é precedido por uma etapa escrita (roteiro) que pode ser composto de várias formas. De acordo com Cruz (2000, p. 323), “É importante ressaltar que o Brasil tem uma cinematografia reconhecidamente, composta por grandes filmes, excelentes diretores, com capacidade surpreendente e equipes que criam com muito pouco e em condições adversas”.
Portanto, todo o filme é constituído por três grandes etapas de criação. Primeira etapa, a fase escrita (etapa da imagem escrita, que vai da idéia até o roteiro final); Segunda e terceira etapas, fases das imagens icônicas (montagem e edição de som). Portanto, cabe ressaltar que toda filmagem é criação coletiva. Trata-se da criação em um processo de tradução intersemiótica, ou seja, é um processo de recriação de um meio para o outro.

4 comentários:

  1. Olá, Juliana! Ficou ótima, muito clara a exposição da leitura que fizeste do ensaio do Jorge Cruz sobre roteiro. Uma síntese que desperta o interesse pela leitura do texto na íntegra e também a vontade de aprofundar a pesquisa em torno do assunto. Parabéns!

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  2. Olá, prof. Débora e Nádia!

    Muito obrigada pelo apoio de vocês!
    Beijos.

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  3. Olá, Juliana
    Gostei muito do seu texto Parabéns!!!!
    Um abraço

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